Sobre autoria — Manual dos discursos literários #5
Segundo o dicionário Dicio online a sua definição de autoria
autoria (s.f)
Condição de autor, da pessoa que compõe ou é responsável pela criação de alguma coisa: de quem é a autoria do livro?O que ocasiona, dá origem ou é responsável por alguma coisa: a prefeitura foi responsabilizada pela autoria da obra.
É interessante essa definição de autoria, por que sempre estamos pensando em questões de responsável sobre algo. Ok, mas o que difere em questões discursivas, o que propõe essa questão de autoria?
Para Maingueneau, a autoralidade deveria ser uma questão central para a AD, um campo de saber que esforça a sobreposição recíproca de textos e lugares sociais. Assim em O discurso literário (2006), o autor rejeita a divisão tradicional do escritor nas figuras do ser criador, interno à obra, e a do indivíduo, externo a ela. Conforme afirma o autor:
a complexidade dos processos de subjetivação atuantes na criação literária não se deixa apreender por uma oposição tão grosseira e estática quanto a que distingue um “escritor”, um ser de carne e osso dotado de um estado civil, e um “enunciador”, correlato de um texto (2006, p. 134).
Os termos escritor, autor e enunciador são, para ele, insatisfatórios. O valor desse último, um conceito linguístico recente, permanece impreciso e instável — oscila entre uma concepção de enunciador como instância interior ao enunciado e uma concepção em que é propriamente um locutor, isto é, o indivíduo que produz o discurso (CAVALCANTI, 2011, p. 153).
a denominação “a pessoa” refere-se ao indivíduo dotado de um estado civil, de uma vida privada. “O escritor” designa o ator que define uma trajetória na instituição literária. Quanto ao neologismo “inscritor”, ele subsume ao mesmo tempo as formas de subjetividade enunciativa da cena de fala implicada pelo texto (…) e a cena imposta pelo gênero do discurso: romancista, dramaturgo, contista (MAINGUENEAU, 2006, p. 136).
Maingueneau ressalta que as três instâncias (pessoa, escritor e inscritor) não são apresentadas em sequência, em termos de cronologia ou estratos, mas cada uma delas é atravessada pelas outras, como três anéis que se entrelaçam, tal como um nó borromeano (CAVALCANTI, 2011, p. 153).